As Bucólicas, primeira grande obra de Públio Virgílio Marão, poeta maior do mundo latino, recriam o espaço idílico dos pastores sicilianos de Teócrito, poeta siracusano do século III a.C., mesclando a tranquilidade e a perfeição de uma Arcádia utópica com a crise do mundo romano convulsionado pelas guerras civis, mas prenhe de esperança nos novos tempos, em que a paz e a segurança de uma nova ordem serão estabelecidas. Escritos entre 42 e 37 a.C., os seus dez poemas estão repletos de alusões aos eventos dramáticos e sangrentos que marcaram a transição da República para o Império, anunciando uma nova Idade de Ouro, com a Pax Romana sob o cetro de Augusto. Também os amores descritos nas cenas idílicas apresentam algo de perturbador, por se tratarem, quase sempre, de paixões não correspondidas.
Obra seminal da cultura literária do Ocidente, as Bucólicas têm sido permanentemente lidas, imitadas e traduzidas desde a sua primeira publicação, há mais de dois milênios, inspirando artistas de todas as épocas e áreas. Nesta primorosa tradução de Raimundo Carvalho, os cantos dos pastores-poetas ressoam íntegros, emulados em novo tecido sonoro e rítmico, observando o contraste melódico entre a suavidade e o colorido das vogais da língua portuguesa falada no Brasil e o intrincado sistema das aliterações consonantais recriado do original latino.