Os estudos sobre os temas da pesca artesanal, das comunidades tradicionais e dos conflitos socioambientais em contextos de comunidades costeiras têm sido ampliados nos campos da Geografia Humana e da História Social. Ao longo destes 20 anos de estudos, de orientações de jovens pesquisadores e de implementação da Rede Nacional de Geografias da Pesca, observamos que, diferentemente das contribuições antropológicas, a Geografia vem elaborando recortes e proposições teóricas e metodológicas, que articulam as experiências de produção social do espaço e de análise de território, como categorias de investigação experimentais, na reflexão sobre os modos de vida das comunidades pesqueiras, sem perder de vista os contextos de urbanização, de industrialização e de conflitos próprios dos usos do território por diversos agentes, com diferentes intencionalidades. Se a Geografia contribui com a compreensão das espacialidades (configurações espaciais) das relações de poder, dos confrontos territoriais (que se relacionam com fronteiras e com normatizações) e das escalas, como instrumentos de recortes e de metodologias, a História Social vem contribuir com este diálogo, sobretudo no colóquio entre a História Social do território e a História Social da cultura, quando coloca a discussão do tempo, das historicidades e das memórias como possibilidade metodológica de enfrentamento da compreensão de coletividades de trabalhadores e de trabalhadoras, que têm, como condição de vida, a experiência do extrativismo marítimo ou ribeirinho, a qual se constrói nas percepções de tempo e de espaço tecidas nos cotidianos vivido e experimentado.
A troca de saberes, o convívio e os diálogos com estes homens e com estas mulheres têm alterado as formas de fazer Geografia e História, aproximando as reflexões epistemológica e ontológica sobre tempos e sobre espaços sociais como categorias relativas e existenciais próprias.
O presente livro é fruto de discussões, de debates, de reflexões, de estudos e de atividades de pesquisas e de extensão, que têm, ao mesmo tempo, feito inferências sobre limites e sobre possibilidades de métodos e de metodologias na ponderação sobre o fazer científico, em diálogo com os saberes tecidos por homens e por mulheres comuns.