Não conheci James Joyce pessoalmente, mas conheci sua filha Lucia.
Ela era ainda jovem e fui visitá-la num sanatório perto de Londres. Ela estava deitada, com os olhos abertos, olhando o teto: "I have never seen a star in the sky", ela me disse, "Do you know why? No clouds but no stars as well" (o inglês dela não era muito bom, nem o meu, pelo menos foi o que a minha amiga Luci me disse). "É assim mesmo", eu disse. Ela ficou em silêncio e aproveitei para me apresentar como estudiosa e tradutora da obra do seu pai. Na verdade, o que eu queria é que ela me contasse dos anos de Finnegans wake [...].
D.W.A.
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Conheci a escritora numa oficina de produção de laticínios em Gruyères, na Suíça. Logo percebi que se tratava de pessoa sensível e com enorme talento para a seleção de vacas leiteiras e bezerros necessários à fabricação do queijo gruyère. A propósito, era sobre a casca grossa desse queijo que ela escrevia breves poemas de cunho político com o intuito de alimentar não só o corpo mas o espírito dos consumidores ao redor do mundo, pois o queijo que fabricávamos era exportado para inúmeros países, inclusive para o Brasil, terra natal da autora destes contos cruciais para a literatura contemporânea.
Neste livro, contudo, ela troca os versos por breves relatos em prosa, nos quais propõe uma contundente revisão da história literária ocidental, rebatendo teorias até o momento em voga e reelaborando com muita sagacidade o cânone literário.
Mas este é também um livro de memórias, pois a escritora, que é também jornalista, formada na Escola de Altos Estudos de Barra Velha (SC), reproduz entrevistas e encontros com os mais diversos escritores com quem teve o prazer de conviver ao longo de seus anos de combate intelectual na América Latina.
Confesso que fiquei tão impactada com a presente obra que me perguntei: "Como ela, então uma jovem, pôde conceber e desenvolver uma ideia tão medonha?".
Mary Shelley